quarta-feira, 15 de maio de 2024

Eu escolhi interromper os ciclos de violências

              O título deste texto surgiu a partir de uma reflexão em torno da forma como trato as pessoas, esmo aquelas que apresentam um comportamento desagradável em relação a mim.

Tenho bem estabelecido em minha forma de pensar que quero sempre tratar bem e com respeito todas as pessoas porque é também dessa forma que gostaria de ser tratada. Sempre consigo? Não. Às vezes eu sou desatenta na relação com o outro, às vezes autoritária, por vezes não consigo me comunicar de forma assertiva o que sinto e em alguns momentos sou individualista e não entenda ser individualista como um problema. Nós precisamos mesmo estabelecer certos limites nas relações para que não nos percamos de quem somos e para que sejamos respeitados. Mas é preciso estar atento à medida da individualidade.

E acho que esse é o ponto para que eu entre no tema que queria trazer. A violência presente na experiência de vida de pessoas negras que inevitavelmente produz uma subjetividade, a forma de ser de cada ser humano, adoecida.

Desde a infância os corpos negros experimentam diversos tipos de violências, sejam no ambiente familiar, no escolar, nas instituições sociais pelas quais passa ao longo de sua vida como um todo, devido a estrutura racista em que nossa sociedade foi formada e que define não só a forma como pessoas não brancas serão tratadas, como também os lugares que elas podem ou não ocupar. E o lugar de ser humano que merece receber afeto, é um dos que lhe foi retirado o direito de acessar, provocando tamanha desumanização desses corpos.

Não vou entrar aqui em detalhes das consequências do racismo na vida de pessoas negras para não gerar maior sofrimento e não cair no erro de unificar as experiências, apesar de já estar posto que existe uma narrativa comum quanto a essas experiências e o racismo em suas diversas formas é o que as atravessam.

Pois bem, resgato aqui o objetivo deste texto: o resgate da humanidade através do afeto e do cuidado. Entender que por anos nossos corpos têm sido tratados como mercadoria e que precisamos resgatar formas de cuidar que nos devolva o direito de sentir e falar sobre o que se sente são imprescindíveis para perpetuar e afirmar nossa existência. E não há caminhos para se fazer isso que não passe pelo aquilombamento, pelo resgate dos valores africanos e do sentido do que é viver em comunidade.

Sendo assim, para mim, é claro o entendimento de que se eu escolhi interromper esses ciclos de violências sofridas por mim e por minha comunidade, eu preciso ter comportamentos que condizem com isso.

O Psicólogo Rômulo Mafra diz que “o maior genocídio da escravidão foi o assassinato da autoestima do negro, que persiste até hoje.” E olhar principalmente para pessoas negras, suas experiências, seus traumas e adoecimentos com afeto, oferecer cuidado, escuta e criar um ambiente para que ela possa não reviver essas dores, mas conseguir verbalizar e ressignificá-las, é parte fundamental do objetivo de devolver a humanidade aos corpos negros e possibilitar a formação de outras subjetividades. 

Talvez essa atitude se aproxime ao máximo do que Bell Hooks define como amor, que estaria mais no campo da ação do que de um sentimento. Seria um movimento que nos coloca contra o domínio e opressão aos quais fomos submetidos há anos. E que envolveria a “combinação de cuidado, compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança”. E para entender esse conceito precisamos pensar amor, fora da lógica ocidental.

E como Psicóloga que segue uma abordagem terapêutica humanista, onde acredita-se que existem três condições facilitadoras nas relação terapêutica e que precisam ser intrínsecas ao terapeuta, eu não poderia ser diferente. Essa forma de ser se expressa na vida e na clínica.

#saúdementaldapopulaçãonegra #saúdemental #psicologia #psicoterapia


quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Propósitos, qual o seu?





Tudo o que acontece em nossa vida tende a nos levar ao propósito que temos nela.

Às vezes, quase sempre, não compreendemos e isso pode nos causar angústia, sofrimento, porque tentamos seguir um fluxo diferente do sentido em que a roda está girando. Porém, se tivermos abertura, no momento exato as respostas vêm, as coisas começam a fazer sentido e nos alinhamos ao fluxo da vida. E aí, milagrosamente (ironia), as coisas fluem.

Eu geralmente falo sobre uma frase do Steve Jobs que eu guardo há anos: "Tenha a coragem de seguir o que seu coração e sua intuição dizem. Eles já sabem o que você deseja. Todo o resto é secundário." Mas, às vezes eu esqueço. E são nesses momentos que inesperadamente, meus mentores espirituais, minha ancestralidade (como queiram chamar) entram em ação me lembrando que é preciso silenciar e me ouvir.  Ouvir aquela vozinha que muitas das vezes, na correria do dia a dia, ignoramos. 

E a resposta vem...

Iyá Janaína Portela diz: "Propositalmente esquecemos para o que viemos, nossa missão é relembrar". 

"Quem tem fé não fica sem resposta." Mãe Flávia Pinto.

Já se ouviu hoje? Qual a direção que você tem seguido?

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#propósito #vida #espiritualidade #matriarcado

Créditos da imagem: https://www.setedias.com.br/noticia/dez-por-um/119/sobre-propositos/27712

sábado, 21 de outubro de 2023

Serenidade



Eu sempre compartilho aqui o quanto estudar sobre espiritualidade me ajuda a compreender as coisas que acontecem em vida. Umas fotos que tirei hoje, me trouxeram a mais uma reflexão.

Estudar sobre orixá oxalá me ensina que tendo calma e serenidade pra caminhar, consigo ter tempo pra refletir e olhar a minha volta. Me ensina, por mais que seja difícil, a viver um dia de cada vez, a não ter pressa pra resolver tudo, porque nem tudo depende de mim.

Estou aprendendo que preciso fazer o que está ao meu alcance da melhor forma que eu posso, tirar um tempo para descansar e refletir porque assim eu chegarei onde quero menos cansada e mais sabia.

Nem sempre foi assim, nem sempre é fácil, mas aprendi que era o necessário. Aprendi que as linhas de chegada são muito importantes, mas a forma como eu caminho também.

Porque na vida, às vezes, a gente precisa fazer o caminho de volta, mas correndo eu não consigo prestar atenção nele e isso dificulta a criação de estratégias, custando um tempo maior para chegar.

Segundo Nego Bispo, nossa vida é começo, meio e começo.

Epá Babá! 🤍🕊️

*Imagem da internet 

#tempo #oxalá #paciencia # serenidade 

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Eu sinto muito

 


Começo esse texto com a frase de uma Psicóloga que ouvi recentemente em um podcast. "Tudo o que você sente está certo."

Sempre fui uma pessoa de sentir de forma intensa tudo na vida. Fossem os encontros, as despedidas, as perdas, o medo... Mas na sociedade em que vivemos é um "problema" ser sentimental demais. Precisamos ser racionais, objetivos o que não nos permite ter tempo para sentir. Principalmente quando falamos de pessoas negras, por todo o processo de colonização que nos roubou a humanidade. E se não nos é concedido tempo para experiênciar uma vivência com toda a riqueza que esse evento traz, como poderemos compreende-lo ou elabora-lo?

Ao longo da vida eu sempre me identifiquei como uma pessoa 50% racional e 50% sentimental.

Mas sendo alguém que sempre acreditou em astrologia, e que compreende o quanto a mesma nos possibilita um autoconhecimento, tenho o signo sol em peixes, ascendente em virgem, lua em libra e vênus em touro. Sempre achei um mapa bem bagunçado. Mas na fase adulta, em que comecei a buscar mais entendimento sobre o que de fato essas informações queriam dizer, entendi que na verdade eram as combinações perfeitas e que o que eu precisava era aprender a usá-las a meu favor. 

Pois bem, desse meio a meio que falei antes, a parte sentimental sempre foi muito criticada e questionada e eu passei a vida toda acreditando que eu precisava mudar isso. Precisava ser mais racional, parar de chorar por bobeira, me posicionar ao invés de me recolher porque a situação ou o que eu ouvi foi doloroso demais pra mim. E como consequência eu me calei. Passei grande parte do tempo que tenho de existência sendo aquela criança, adolescente e adulta que todo mundo elogiava por ser educada, centrada, um exemplo a ser seguido. Mas essa era a Bianca que os outros queriam, que adoeceu e não podia dizer. E o resultado do silenciamento são infinitos sintomas no corpo físico, doenças ligadas a imunidade, até entender que eu era um todo. 

Quando eu aprendi que eu podia falar, eu desandei, não queria guardar mais nada. O melhor dessa fase foi aprender a gargalhar. Repetia sempre uma frase da série A vida e a história de Madam CJ Walker, "Às vezes, o silêncio é a única proteção que uma mulher negra tem. Mas agora que aprendi a contar minha história, não posso mais me calar". Mas depois eu entendi que eu precisava aprender a comunicar o meu sentir, até para não ferir os outros e nesse processo minha ancestralidade me ensinou a cuidar da minha cabeça, a cultuar orixá através do meu bom comportamento para caminhar de vagar, com calma na vida e tomar boas decisões. Lembro de uma frase que ouvi de psicólogas negras que são de terreiro "nós como mulheres de terreiro entendemos que nosso autocuidado se inicia pela cabeça", ou seja, cuidar da saúde mental. 

Cursando Psicologia, e depois de uns necessários anos de psicoterapia, de reencontro com minha ancestralidade e frequentar terreiros para ouvir os conselhos daqueles que vieram antes de mim, compreendi que o que eu precisava era de me permitir sentir, de ser validada e respeitada e principalmente de respeitar a minha forma de sentir.

Então, sim! Eu sinto muito. Eu ainda sou intensa. Eu as vezes, passo dias triste e angustiada por algo que estou sentindo, mas não consigo nomear. Ou por alguma situação que passei e que ainda não fez sentido pra mim até que eu fico pensando sobre aquilo, ou choro, ou converso com alguém, ou vou ao terreio e consigo compreender/ elaborar aquela experiência e sigo.

Da mesma forma quando eu vejo algo que gosto muito ou acho bonito eu falo. Quando vou a um lugar que eu me sinto muito feliz eu fico igual a uma criança, porque me sinto tão livre e segura para viver aquele momento que essa é a única possibilidade de me expressar.

Pra finalizar volto a história dos signos. O signo sol "é a nossa essência básica (...), revela quem realmente somos" ou seja, tenho o "Sol vibrando em Água Mutável", logo tenho uma sensibilidade aflorada no campo emocional, principalmente com as combinações do meu mapa astral. Algo que mais uma vez se justifica quando me aproximo do entendimento do meu destino.

Qual a sua forma de sentir e expressar?


#emoções #sentimentos #signos #astrologia #espiritualidade #psicologia

Imagem: https://www.meucoracaoafricano.com/post/2016/03/03/novos-orix%C3%A1s-aj%C3%AA

Frase: https://br.pinterest.com/pin/srie-a-vida-e-a-histria-de-madame-cj-walker--753790056372558944/

Referências: https://www.astrolink.com.br/mapa-astral

terça-feira, 11 de julho de 2023

Sobre ser

Quase ninguém entende a forma como me expresso. Se acho bonito, falo. Se acho legal, interessante, falo e incentivo. Estou sempre tentando ajudar, fortalecer, fazer as pessoas progredirem.

Minha avó ensinou que o que não quero pra mim, não deveria querer ou fazer com os outros. Logo, sou educada, transmito afeto, mesmo que algumas pessoas se aproveitem disso. 

Sou tão verdadeira que ser diferente disso me constrange, me angustia. O mais difícil é vestir uma roupa que não me cabe. E o mais importante é saber que tenho paz ao deitar para dormir.


#ser #autenticidade

"És o senhor do destino"



Lembro-me da minha primeira despedida da Universidade Rural. Eu morava no alojamento, precisei esvaziar meu armário e fiz isso chorando copiosamente. A Layzza não sabia se me acolhia, se me ajudava...

Na época eu não soube discernir se era pelo fim da graduação, por ter que deixar aquele quarto que se tornou minha casa, se por ter que me despedir das pessoas que compartilharam cinco anos de suas vidas comigo ou se por outro motivo qualquer.

De fato aqueles anos vividos com a intensidade que foi possível, estavam terminando. A cada coisa que tirava do armário um lembrança. A cada foto retirada da porta, da parede, uma lembrança. Até que eu não existisse mais ali.

Não achei que fosse reviver esse momento, mas cá estamos. Novos fins, novas despedidas, mais uns litros d'água escorrendo pelos meus olhos de forma constante nos últimos dias. 

Dessa vez me despeço novamente, agora com a maturidade de uma mulher, entendendo que alguns ciclos precisam se encerram para dar lugar a novos planos. E não mais com a ingenuidade de uma menina incapaz de entender que na vida, às vezes é preciso voltar atrás, reorganizar suas bagagens e seguir viagem.

“O Tempo dá, o Tempo Tira, o Tempo Passa e a Folha Vira.” - Provérbio Áfrikano

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#tempo #formatura #planos #ufrrj #lembranças