segunda-feira, 29 de maio de 2023

Tempo, destino e ancestralidade

Ontem eu estava refletindo sobre o que faz pessoas interessadas umas pelas outras, não ficarem juntas. Eu sei, obviamente, que existem inúmeros fatores que podem ocupar esse espaço invisível entre o desejo e a concretização dele. Mas nessa situação específica, me veio a cabeça naquele momento a cena de um filme sobre a história de uma rainha africana, Amina.

Neste filme, Amina é filha de um rei e sempre se destacou por ser alguém que não se conforma com determinadas normas em sua sociedade. Como é comum nas culturas e sociedades do continente africano, os reis como responsáveis pela comunidade, pelo povo precisam consultar aos ancestrais através dos oráculos para tomarem grandes decisões. É também comum haver sempre mulheres com uma espécie de dons espirituais, como feiticeiras, sacerdotisa, responsáveis por fazer não só a comunicação entre o mundo visível e o mundo invisível, mas de cuidar, no sentido de proteger espiritualmente a população. E em especial pessoas que tem um destino, não mais importante, mas que se cumprido corretamente, interfere para o bem ou para o mal desta população. Pois bem, Amina era uma dessas pessoas e seu pai já sabia, porém, como neste plano estamos atravessados por sentimentos e outros fatores que acabam por dificultar que cumpramos esse papel, o pai de Amina não queria permitir que sua filha seguisse seu destino para protege-la.

Mesmo assim, a sacerdotisa não deixava de lembrá-lo. Amina cresceu e como "esperado" ela seguiu mesmo sem saber um caminho que a levaria onde ela precisava chegar. Como diz Janaína Portela: estrategicamente esquecemos para o que viemos e nossa missão é lembrar. Amina, enfim após alguns acontecimentos vai visitar a sacerdotisa e o diálogo é mais ou menos esse:

Sacerdotisa: Você está atrasada.

Amina: Você estava me esperando?

Sacerdotisa: Você está atrasada. Deveria ter vindo antes.

Amina: Você é... Eu sou Amina, eu vim procurar seu filho...

Sacerdotisa: Eu sei quem você é. Quem você acha que te protegeu esse tempo todo? Você não veio atrás dele...Você veio porque precisa saber.

A sacerdotisa então conversa com Amina e pede que ela espere, mais tarde ela leva Amina a caverna onde haviam registros nas paredes de sua trajetória. Amina então diz que as imagens são familiares, pois ela já as viu em alguns sonhos. Fica entendido então que a mesma precisava se preparar para ajudar seu povo, mas havia um preço a se pagar. O tempo passa vários acontecimentos atravessam sua vida, como a morte de todos os seus familiares e da pessoa por quem se apaixonou, mas Amina consegue finalmente ajudar a seu povo.

No final do filme, Amina volta a consultar a sacerdotisa e diz:

Amina: Você não disse que não seria fácil.

Sacerdotisa: Eu disse que você havia chegado atrasada.

Isso me fez pensar em várias questões em minha vida, pois na busca pela espiritualidade e hoje entendo como ancestralidade, algo que ficou claro foi o quanto eu estou atrasada para meu destino e isso por inúmeros fatores. Mas assim como Amina, eu segui por um caminho que me reaproximou do meu destino e obviamente, foram meus ancestrais que guiaram. Mas o preço também tem sido alto, eu brinco que são 35 anos em 3. 

Mas apesar de tudo hoje eu entendo que estou no caminho fazendo o melhor que posso, mas que determinadas coisas não irão acontecer, não irão voltar e que este pode não ser o tempo para que algumas coisas acontecem.

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Créditos da Imagem: https://www.caentrenospsi.com.br

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