O título deste texto surgiu a partir de uma reflexão em torno da forma como trato as pessoas, esmo aquelas que apresentam um comportamento desagradável em relação a mim.
Tenho bem estabelecido em minha forma de pensar que quero sempre tratar bem e com respeito todas as pessoas porque é também dessa forma que gostaria de ser tratada. Sempre consigo? Não. Às vezes eu sou desatenta na relação com o outro, às vezes autoritária, por vezes não consigo me comunicar de forma assertiva o que sinto e em alguns momentos sou individualista e não entenda ser individualista como um problema. Nós precisamos mesmo estabelecer certos limites nas relações para que não nos percamos de quem somos e para que sejamos respeitados. Mas é preciso estar atento à medida da individualidade.
E acho que esse é o ponto para que eu entre no tema que queria trazer. A violência presente na experiência de vida de pessoas negras que inevitavelmente produz uma subjetividade, a forma de ser de cada ser humano, adoecida.
Desde a infância os corpos negros experimentam diversos tipos de violências, sejam no ambiente familiar, no escolar, nas instituições sociais pelas quais passa ao longo de sua vida como um todo, devido a estrutura racista em que nossa sociedade foi formada e que define não só a forma como pessoas não brancas serão tratadas, como também os lugares que elas podem ou não ocupar. E o lugar de ser humano que merece receber afeto, é um dos que lhe foi retirado o direito de acessar, provocando tamanha desumanização desses corpos.
Não vou entrar aqui em detalhes das consequências do racismo na vida de pessoas negras para não gerar maior sofrimento e não cair no erro de unificar as experiências, apesar de já estar posto que existe uma narrativa comum quanto a essas experiências e o racismo em suas diversas formas é o que as atravessam.
Pois bem, resgato aqui o objetivo deste texto: o resgate da humanidade através do afeto e do cuidado. Entender que por anos nossos corpos têm sido tratados como mercadoria e que precisamos resgatar formas de cuidar que nos devolva o direito de sentir e falar sobre o que se sente são imprescindíveis para perpetuar e afirmar nossa existência. E não há caminhos para se fazer isso que não passe pelo aquilombamento, pelo resgate dos valores africanos e do sentido do que é viver em comunidade.
Sendo assim, para mim, é claro o entendimento de que se eu escolhi interromper esses ciclos de violências sofridas por mim e por minha comunidade, eu preciso ter comportamentos que condizem com isso.
O Psicólogo Rômulo Mafra diz que “o maior genocídio da escravidão foi o assassinato da autoestima do negro, que persiste até hoje.” E olhar principalmente para pessoas negras, suas experiências, seus traumas e adoecimentos com afeto, oferecer cuidado, escuta e criar um ambiente para que ela possa não reviver essas dores, mas conseguir verbalizar e ressignificá-las, é parte fundamental do objetivo de devolver a humanidade aos corpos negros e possibilitar a formação de outras subjetividades.
Talvez essa atitude se aproxime ao máximo do que Bell Hooks define como amor, que estaria mais no campo da ação do que de um sentimento. Seria um movimento que nos coloca contra o domínio e opressão aos quais fomos submetidos há anos. E que envolveria a “combinação de cuidado, compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança”. E para entender esse conceito precisamos pensar amor, fora da lógica ocidental.
E como Psicóloga que segue uma abordagem terapêutica humanista, onde acredita-se que existem três condições facilitadoras nas relação terapêutica e que precisam ser intrínsecas ao terapeuta, eu não poderia ser diferente. Essa forma de ser se expressa na vida e na clínica.
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